As Luzes no espaço luso-brasileiro: repensar as redes cosmopolitas e políticas de conhecimento a partir do caso de José Bonifácio de Andrada e Silva

  • Les Lumières dans l’espace luso-brésilien : repenser les réseaux cosmopolites et politiques de la connaissance à partir du cas de José Bonifácio de Andrada e Silva
  • The Enlightenment in the Luso-Brazilian space: rethinking the cosmopolitan and political networks of knowledge based on the case of José Bonifácio de Andrada e Silva.
Traduction(s) :
Les Lumières dans l’espace luso-brésilien : repenser les réseaux cosmopolites et politiques de la connaissance à partir du cas de José Bonifácio de Andrada e Silva1

O caráter transnacional da cultura europeia no século XVIII, dominada por redes de pensadores e divulgadores unidos entre si pelo ideal de pertença à República das Letras, deixou marcas profundas em muitos autores portugueses que aderiram às ideias e valores das Luzes. Este traço cosmopolita foi particularmente reclamado por um significativo número de homens de letras, nascidos no reino e no Brasil. No conjunto de figuras que realizaram o tour europeu e que por mérito próprio obtiveram o reconhecimento académico e intelectual da comunidade científica da época destaca-se José Bonifácio de Andrada e Silva. O “patriarca da independência” do Brasil ficou conhecido pelo seu perfil de estadista, conselheiro político e parlamentar; porém, a sua controversa carreira política foi antecedida por uma exigente formação intelectual e por uma longa missão científica na Europa das Luzes, que o levou a contactar com proeminentes figuras académicas estrangeiras e a filiar-se em várias academias europeias. Como representante da elite colonial e homem de ciência, imbuído de ideias e valores das Luzes, conectou-se com os interesses reformistas da monarquia portuguesa. O objetivo deste estudo consiste em analisar a formação do homem político e o processo de especialização e profissionalização do naturalista, inserindo a ação do homem de ciência e do reformador no contexto do reformismo imperial português. As propostas, até agora inéditas, que apresentou para a reforma do curso de Filosofia na Universidade de Coimbra ocorreram no período das invasões francesas, ou seja, num tempo decisivo em que José Bonifácio de Andrada pôs à prova a sua fidelidade à coroa portuguesa e o seu patriotismo académico.

Le caractère transnational de la culture européenne au XVIIIe siècle, dominée par des réseaux de penseurs et de divulgateurs unis entre eux par l’idéal d’appartenance à la République des Lettres, a profondément marqué de nombreux auteurs portugais qui ont adhéré aux idées et aux valeurs des Lumières. Ce trait cosmopolite était particulièrement revendiqué par un nombre important d’hommes de lettres, nés dans le royaume et au Brésil. José Bonifácio de Andrada e Silva se distingue dans l’ensemble des figures qui illustrent le panorama européen et qui, par leur propre mérite, ont obtenu la reconnaissance académique et intellectuelle de la communauté scientifique de l’époque. Le « patriarche de l’indépendance » du Brésil était connu pour son profil d’homme d’État, de conseiller politique et de parlementaire ; cependant, sa carrière politique controversée a été précédée d’une formation intellectuelle exigeante et d’une longue mission scientifique dans l’Europe des Lumières, qui l’a conduit à contacter des personnalités académiques étrangères de premier plan et à rejoindre plusieurs académies européennes. En tant que représentant de l’élite coloniale et homme de science, imprégné des idées et des valeurs des Lumières, il a rejoint les intérêts réformistes de la monarchie portugaise. L’objectif de cette étude est d’analyser la formation de l’homme politique et le processus de spécialisation et de professionnalisation du naturaliste, en insérant l’action de l’homme de science et du réformateur dans le contexte du réformisme impérial portugais. Les propositions, jusqu’alors inédites, qu’il a présentées pour la réforme du cours de philosophie à l’Université de Coimbra ont eu lieu pendant la période des invasions françaises, c’est-à-dire à un moment décisif où José Bonifácio de Andrada a mis à l’épreuve son allégeance à la couronne portugaise et son patriotisme académique.

The transnational nature of European culture in the eighteenth century, dominated by networks of thinkers and disseminators united by the ideal of belonging to the Republic of Letters, had a profound effect on many Portuguese authors who embraced the ideas and values of the Enlightenment. This cosmopolitan trait was particularly asserted by a large number of men of Letters, born in the Kingdom of Portugal and in Brazil. José Bonifácio de Andrada e Silva stands out among the many figures who illustrate the European panorama and who, through their own merit, gained academic and intellectual recognition from the scientific community of the time. Brazil's ‘patriarch of independence’ was known for his profile as a statesman, political adviser and parliamentarian. However, his controversial political career was preceded by a demanding intellectual training and a long scientific mission in the Europe of the Enlightenment, which brought him into contact with leading foreign academic figures and led him to become a member of several European academies. As a representative of the colonial elite and a man of science, imbued with the ideas and values of the Enlightenment, he joined the reformist interests of the Portuguese monarchy. The aim of this study is to analyse the formation of the politician and the process of specialisation and professionalisation of the naturalist, placing the actions of the man of science and the reformer in the context of Portuguese imperial reformism. The hitherto unpublished proposals he put forward for the reform of the philosophy course at the University of Coimbra took place during the period of the French invasions, i.e. at a decisive moment when José Bonifácio de Andrada put his allegiance to the Portuguese crown and his academic patriotism to the test.

Plan

Texte

À escala europeia, o cosmopolitismo cultural das Luzes favoreceu a circulação do conhecimento e estimulou o alargamento de redes científicas e filosóficas de vinculação académica. Em Portugal, na segunda metade do século XVIII, o ensino das ciências experimentais e dos saberes de cunho racionalista foi incorporado na reforma de 1772 da Universidade de Coimbra – a única existente no país, à época. Com a outorga dos novos Estatutos pombalinos à Universidade observou-se uma alteração de paradigma teórico e metodológico no ensino dos cursos superiores, com explícita vinculação das faculdades recém-criadas de Filosofia e Matemática ao modelo experimental newtoniano. Os progressos científicos em todas as áreas do conhecimento estiveram na base de novos contactos com outros centros académicos europeus e originaram uma intensa difusão de livros e notícias. Neste contexto, foram efetuadas as primeiras viagens e missões científicas iluministas conduzidas no exterior e no espaço imperial português por naturalistas especialmente formados na Universidade de Coimbra. Ao promovê-las, a monarquia portuguesa jamais escondeu o seu interesse em conhecer e explorar melhor os recursos naturais e as potencialidades económicas dos territórios ultramarinos. Na prática, como veremos mais adiante a propósito de alguns aspetos relacionados com a formação e com a ação de elementos das elites académicas luso-brasileiras, as expedições filosóficas nos domínios coloniais e na Europa, norteadas pela busca e exploração organizada de recursos naturais e por uma visão autossustentada do império, acabaram por comprometer a unidade política que tornara possível e credível a aspiração cosmopolita e universalista da modernidade iluminista.

O capital político da ilustração cosmopolita

Em tempo de redefinição do conceito e da doutrina de ciência da governação, “a nobre” carreira do homem de ciência assentava num conjunto de pressupostos comuns partilhados por sociedades, academias e redes de correspondência de sábios e ilustrados. Um dos vetores de identidade desta comunidade em expansão residia na crença no progresso do espírito humano, encarado como fonte de regeneração do homem e como condição de avanço civilizacional. Pelo que competia aos sábios e aos quadros formados na Universidade, nas palavras do reitor reformador D. Francisco de Lemos, «difundir a Luz da Sabedoria por todas as partes da Monarquia, animar todos os ramos da Administração Pública [e] promover a felicidade dos homens, ilustrando os seus Espíritos com as verdadeiras noções do justo e do útil2».

A Universidade, desde 1772, e a Academia Real das Ciências de Lisboa, desde 1779, tiveram um papel fundamental na formação da elite luso-brasileira que viria a pôr em prática o reformismo esclarecido no Estado Imperial Português3. O desígnio de engrandecimento do Império passava então pela expansão das suas riquezas e recursos e pela reforma da administração colonial4. Sustentando com os seus escritos a política económica e ultramarina da Coroa, Domingos Vandelli, lente de História Natural, deu início à preparação dos primeiros naturalistas, grande parte deles oriundos do Brasil5. Muitos distinguiram-se em missões científicas nos territórios ultramarinos, na Europa e na América. Neste conjunto de figuras pioneiras encontramos Alexandre Rodrigues Ferreira, João da Silva Feijó, Joaquim José da Silva, Manuel Galvão da Silva, Manuel Arruda da Câmara, Joaquim Veloso de Miranda, José Bonifácio de Andrada e Silva e, entre outros, Hipólito José da Costa6.

No plano internacional, as missões destes homens de ciência e emissários da Corte de Lisboa estiveram na génese do estabelecimento de contactos institucionais e pessoais com o Presidente da Royal Society of London, Joseph Banks, Lineu, Fourcroy, Chaptal, Duhamel, Jussieu, Abraham Werner e Benjamin Franklin, para só citar os mais influentes vultos do mundo académico e da grandiosa “República das Letras” que então se começava a projetar à escala global7.

Em articulação com o poder político, coube ao jurista e naturalista José Bonifácio de Andrada desempenhar algumas das mais importantes missões científicas no reino e no estrangeiro. Dependente do alto patrocínio de figuras poderosas, Bonifácio de Andrada coordenou uma extensa rede de contactos internacionais e foi conselheiro de governos em vários domínios, beneficiando com isso de honras e privilégios assinaláveis8. Ao longo da sua longa e acidentada carreira ao serviço da coroa bicéfala de Bragança, primeiro em Portugal e de 1822 em diante no Brasil independente, revelou-se um ardente defensor do progresso e de novos valores, como a liberdade, a tolerância, a humanidade e a filantropia9. Mais tarde, subordinou a sua extensa atividade de homem público ao primado da sua formação iluminista, afirmando: «Eu sou filósofo, isto é, constante indagador da verdadeira e útil sabedoria [...] procuro conhecer somente os homens, e as coisas pelo lado do seu uso prático para deles adquirir o conhecimento útil10 ».

Foi crucial na trajetória cultural e política de Bonifácio de Andrada a passagem por Coimbra. Ingressou na Universidade em 1783 e obteve o bacharelato em Filosofia em 1787. No ano seguinte alcançou a formatura em Leis11. Do seu diploma de curso jurídico constam as seguintes qualificações: « em procedimento e costumes aprovado por todos ; em merecimento literário, 5 votos de bom e 2 de muito bom12. »

Entre os companheiros de eleição de Bonifácio de Andrada na Universidade de Coimbra encontravam-se alguns jovens, como ele, nascidos no Brasil: Manuel Ferreira da Câmara Bethencourt, João Evangelista de Faria Lobato, José Egídio Álvares de Almeida, Bernardo de Sousa Barradas e, entre outros, Francisco de Melo Franco. Estes estudantes ilustrados entregavam-se à leitura de obras proibidas, sendo alguns deles acusados de manifestarem atitudes e opiniões “incrédulas” e libertinas. Na verdade, a geração de José Bonifácio esteve no centro de uma cultura subterrânea de contestação académica. À época, no meio estudantil corriam de mão em mão papéis anónimos manuscritos, contendo numerosas poesias e libelos satíricos que punham a ridículo a tacanhez de alguns professores e denunciavam a falta de tolerância que então se vivia na academia. Na sua famosa Epístola escrita em Coimbra no começo da Primavera de 1785, publicada em Bordéus, e incluída nas Poesias de Américo Elísio (1825), Bonifácio de Andrada alude à data de circulação do poema jocoso O Reino da Estupidez (1785), revelando uma singular partilha de linguagens e ideias com o presumível mentor do manuscrito, o seu conterrâneo Francisco de Melo Franco.

Depois dos tempos de juventude em Coimbra, Bonifácio de Andrada brilhou como homem de letras e de ciência. Ao completar os seus estudos na Universidade, ingressou como sócio livre da Academia Real das Ciências de Lisboa, a 4 de março de 1789, com apenas 26 anos de idade. Nesse mesmo ano, habilitado com a licenciatura em Leis, submeteu-se à leitura de bacharéis no Desembargo do Paço.

A partir de então, colocou a sua formação de naturalista ao serviço da monarquia imperial portuguesa. Em 1790 apresentou uma memória à Academia Real das Ciências de Lisboa, sobre A pesca das baleias e extração do seu azeite, com algumas reflexões a respeito de nossas pescarias e aceitou participar numa auspiciosa expedição científica que o levou a visitar e a viver em vários países europeus13. O seu percurso internacional, impulsionado pelo abade Correia da Serra e pelo duque de Lafões, fundadores da Academia Real das Ciências de Lisboa, foi financiado pelo governo e suportado por ministros esclarecidos, como D. Luís Pinto de Sousa Coutinho (1735-1804). Foi este Secretário dos Negócios Estrangeiros que assinou, em maio de 1790, as Instruções da « Viagem Filosófica Europeia » de Bonifácio de Andrada e seus companheiros, as quais previam a realização de cursos e expedições de História Natural, Geologia, Mineralogia e Metalurgia nas minas da Saxónia, Boémia, Hungria, Suécia, Rússia, Noruega, Escócia, País de Gales e Espanha. Durante a viagem, os naturalistas deviam também fazer “compras de livros de profissão, máquinas e modelos, que se devam adquirir, e remeter [tudo] para a Corte de Lisboa14”.

Bonifácio de Andrada, na companhia de Manuel Ferreira da Câmara Bethencourt (1762‑1835) e de Joaquim Pedro Fragoso (?-1833), percorreu os mais importantes centros científicos europeus, não chegando a deslocar-se à Rússia, Inglaterra e Escócia e tendo apenas Ferreira Câmara atravessado o Canal da Mancha. A missão científica dos três ex-estudantes da Universidade de Coimbra iniciou-se em França. Em Paris, entre setembro de 1790 e janeiro de 1791, José Bonifácio frequentou os cursos de Química de Fourcroy e de Chaptal. Foi admitido em várias associações, nomeadamente, na Sociedade de História Natural e eleito membro da Sociedade Filomática de Paris. Assistiu na Escola de Minas às lições de Duhamel e contactou com Baltazar Jorge Sage. Estreitou laços de amizade com Fourcroy e aderiu às teses de Lavoisier, fundador da Química científica.

Em 1792, viajou pela Alemanha onde permaneceu quase dois anos. Aí aprofundou os seus conhecimentos de Química, Metalurgia e Geognosia. Seguiu em Freiburg as aulas do famoso mineralogista Abraham Werner, de Lempe (matemático), Köller (especialista em legislação de minas) e, entre muitos outros elos que estabeleceu com a comunidade científica e filosófica germânica, firmou relações de mútuo apreço e amizade com Wilhelm von Humboldt15.

Entre 1794 e 1796, percorreu as minas e fundições da Saxónia, da Boémia, Estíria, Caríntia e as salinas de Gmünd (Áustria) e deslocou-se a Viena de Áustria. Porém antes desta jornada, entre fins de 1793 e inícios de 1794, José Bonifácio e Manuel Câmara estiveram na Itália. Na Universidade de Pavia, Bonifácio de Andrada frequentou o curso de Física Experimental de Alessandro Volta. O desvio ao norte de Itália, recentemente estudado por Júnia Furtado, poderá estar relacionado com o contacto que o jovem luso-brasileiro manteve na cidade das Luzes com o abade René Just Hauÿ, membro da Academia das Ciências de Turim e autor de memórias sobre eletricidade e teoria do magnetismo. « Depois de terminar os estudos em Pavia, sabe‑se que Bonifácio realizou uma viagem de investigação mineralógica e geológica, aos montes Eugâneos, parte dos Alpes, situados nas proximidades de Pádua, na região do Veneto16 ».

Prosseguiu as suas prospeções mineralógicas na Suécia e investigou os grandes jazigos naturais da Escandinávia. Aqui descreveu novos minerais, descobertas que reforçaram a sua reputação científica internacional. Deslocou-se a Upsala e a Copenhaga, passou pela Bélgica, Holanda, Hungria e Turquia. Recebeu um convite do príncipe real da Dinamarca para assumir o cargo de Inspetor das Minas na Noruega, mas resolveu voltar a Portugal. Antes disso, deu a conhecer as suas descobertas científicas no campo da mineralogia num artigo célebre publicado na revista alemã Allgemeines Journal der Chemica (1800), que teve duas traduções, uma em francês no Journal de Physique, de Chimie, d’Histoire Naturelle et des Arts (1800), e outra em inglês no Journal of Natural Philosophy, Chemistry and the Arts (1801). Na sua longa e cosmopolita expedição europeia, perseguiu o objetivo de « fazer as ciências úteis à pátria », conforme reconheceu um dos seus companheiros de viagem17.

Os estudos sobre jazidas geológicas e novos minerais tornaram internacionalmente conhecido o cientista luso-brasileiro que foi membro das academias científicas de Berlim, Estocolmo, Copenhaga, Turim, Londres, Génova, Filadélfia, Iena e Edimburgo. Em França, durante o período revolucionário da Convenção, envolveu-se ativamente nos trabalhos da Société Linnéenne, da Société Philomathique e da Société d’Histoire Naturelle de Paris. Devido às ligações que estabeleceu com outros sábios da época, integrou a delegação de naturalistas que, em agosto de 1790, apresentou à Assembleia Nacional Francesa uma petição a favor da elevação de uma estátua pública, em Paris, ao botânico sueco Lineu18.

Bonifácio de Andrada publicou ainda memórias sobre os diamantes do Brasil, o carvão de pedra no reino, a produção de ferro e a exploração de outros recursos naturais. A partir de 1811, na sua qualidade de Secretário Perpétuo da Academia Real das Ciências de Lisboa lançou a campanha vacínica (contra a varíola) e fomentou os primeiros trabalhos experimentais sobre os efeitos profiláticos da quina. Como Intendente-Geral das Minas e Metais do Reino e diretor do “Curso Docimástico” da Casa da Moeda aí instalou um Laboratório Químico em Lisboa. Nele trabalharam dois dos seus mais diretos colaboradores: o médico Gregório José de Seixas, tradutor das Tábuas Sinópticas de Química de Fourcroy, publicadas em Lisboa em 1802, dois anos após a primeira edição francesa, e o lente substituto de Metalurgia José António Monteiro. O curso da Casa da Moeda destinava-se a formar ensaiadores químicos e agentes especializados em metalurgia. Por decisão do príncipe regente D. João, o novo estabelecimento funcionou anexo à Universidade de Coimbra, constituindo, portanto, de 1804 em diante, uma possível extensão da Faculdade de Filosofia na capital portuguesa.

Profundamente atento às questões mais prementes da sua época, Bonifácio de Andrada assumiu uma atitude humanista ilustrada na defesa dos negros e contra o esclavagismo oficial. Advogou o fim gradual da escravidão e contribuiu para o debate sobre a questão abolicionista no Brasil em textos como Apontamentos para a civilização dos Índios Bravos do Império do Brasil e, mormente, na Representação à Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil sobre a Escravatura 19.

Vivendo em Paris, no período de terror da Revolução Francesa, Bonifácio de Andrada repudiou o radicalismo filosófico e político jacobino e guardou um calculado distanciamento em relação às transformações profundas que ameaçavam a França e os países do continente europeu. Nesta fase, o compromisso político-cultural com a monarquia portuguesa de Antigo Regime condicionou o seu horizonte de reflexão acerca do futuro do Novo Mundo. Na sequência da Declaração de Independência das colónias inglesas da América do Norte (1776) e da Inconfidência Mineira (1789) no Brasil, assumiu uma posição ajustada ao reformismo imperial da monarquia portuguesa. À época, o irmão do futuro intendente Câmara, José de Sá Bethencourt, igualmente formado em Coimbra, fora acusado de conluio revolucionário com um grupo de insurgentes de Pernambuco e de participação em sociedades secretas, denúncia extensiva ao seu conterrâneo Vieira Couto, julgado e condenado na Inquisição de Coimbra, durante o período em que esteve matriculado na Universidade. Estes casos evidenciavam bem o poder de intervenção e de contestação conquistado pelas gerações ilustradas luso-brasileiras, em finais do século XVIII. De facto, as práticas científicas passaram a fazer parte integrante da rotina administrativa do Império Português sendo, por vezes, realizadas no governo das províncias por indivíduos que, antes mesmo da Independência, haviam secundado rebeliões locais e até projetos políticos vagamente secessionistas20.

O Filósofo e conselheiro do governo português

Aquando do seu regresso a Portugal, em 1800, José Bonifácio apresentou-se aos ministros do príncipe D. João coroado de prestígio e disposto a colocar as suas ideias e conhecimentos úteis ao serviço do bem público. A poucos meses de rumar ao reino, escreveu, em Hamburgo, uma extensa carta a D. Rodrigo de Sousa Coutinho contendo um plano de exploração de minas e um programa de fomento industrial para o reino. Esta importante missiva comprova que, à data, ambos, o ministro e o naturalista, não se conheciam pessoalmente : « Ainda que não tenho a honra de ser conhecido pessoalmente de V. Exª », escrevia Bonifácio de Andrada21.

O programa económico inscrito na mesma carta foi simultaneamente enviado ao embaixador D. Luís Pinto de Sousa Coutinho : « julgo dever aproveitar a ocasião da partida para Lisboa do Sr. D. José Maria de Sousa, meu honrado e estimadíssimo amigo, para vir comunicar a V. Exª, como Ministro do Ultramar, o mesmo que acabo de representar ao Ex.mo. Sr. Luís Pinto de Sousa », conforme explicitava o seu autor22.

A iniciativa de aconselhamento dos ministros de D. João estava relacionada com os laços de amizade estabelecidos entre Bonifácio de Andrada e o diplomata D. José Maria de Sousa, 5.º morgado de Mateus e primo do ministro D. Rodrigo de Sousa Coutinho, que, tal como Bonifácio de Andrada, havia estudado na Universidade de Coimbra depois da reforma pombalina.

Inserido no grupo de sociabilidade cultural alimentado pelas primeiras gerações de estudantes universitários pombalinos, Bonifácio de Andada pretendeu, assim, após o seu regresso a Portugal, dinamizar o desenvolvimento das atividades económicas, modernizar tecnologicamente a indústria, em especial a metalurgia, e prodigalizar conhecimentos úteis a agricultores e fabricantes, melhorando infraestruturas viárias, tirando o melhor partido das riquezas naturais e secundando o progresso material do país, com o incremento do bem-estar, da educação e da saúde das populações. Em cartas posteriores dirigidas ao ministro e presidente do Erário Régio, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, sugeriu a vinda de operários metalúrgicos estrangeiros para Portugal, decisão que foi acolhida pelo governo, incluindo-se no recém-contratado grupo de imigrados o pai do célebre historiador brasileiro Francisco Adolfo Varnhagen. Motivado pelos avanços realizados no sector energético, sobretudo na Grã-Bretanha, chegou mesmo a propor a utilização industrial da máquina a vapor em Portugal, o que só veio a acontecer cerca de 30 anos mais tarde23.

As suas ideias foram objeto de discussão no gabinete do príncipe regente D. João e contaram, em parte, com o apoio de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, que o cumulou com cargos, responsabilidades, honras e distinções. Depois de realizar a sua viagem filosófica na Europa, José Bonifácio voltou a Coimbra, em 15 de abril de 1801, para ministrar a recém-criada cadeira de Metalurgia na Faculdade de Filosofia. Acumulou então a função de lente da Universidade com as atribuições de Intendente Geral das Minas e Metais do Reino, Diretor do Real Laboratório da Casa da Moeda, Superintendente do Rio Mondego e Obras Públicas da Cidade de Coimbra, com tutela sobre a exploração das antigas minas de carvão de Pedra de Buarcos, e de Administrador das Ferrarias da Foz do Alge. Em 1805, foi também nomeado Desembargador da Relação e Casa do Porto.

Planos de reforma e especialização da Faculdade de Filosofia

O regresso como docente de Bonifácio de Andrada à Universidade ocorreu num período de especialização curricular na Faculdade de Filosofia, de acordo com o decreto de 23 de janeiro de 1801. Acompanhando os progressos do conhecimento do mundo natural, a contratação de Bonifácio e de outros lentes refletia também o poder de intervenção de elementos exteriores ao cenáculo universitário na revisão curricular e reformulação dos cursos. De acordo com esta lógica, a Congregação da Faculdade de Filosofia foi obrigada a aceitar a seguinte determinação do príncipe regente:

Atendendo a que a cadeira de Metalurgia, que fui servido criar, tendo por objeto matérias muito úteis e interessantes ao bem público e comum dos meus reinos e senhorios, não pode ser dignamente desempenhada e estabelecida, se não for por um filósofo, que tenha viajado pelos países, em que esta ciência principalmente se cultiva, observando a natureza em grande, e estudando todas as práticas que lhe são relativas; achando-se plenamente informado de que as referidas circunstâncias concorrem na pessoa de José Bonifácio de Andrada, que para este fim viajou, como pensionário meu por espaço de dez anos com conhecido aproveitamento: hei por bem fazer-lhe mercê da referida cadeira, nomeando-o quinto lente da Faculdade de Filosofia24.

Na sequência de novos provimentos de docentes foram retomadas, de acordo com as propostas de Bonifácio e de outros lentes recém-contratados, algumas providências tendentes a melhorar os estudos na Faculdade de Filosofia, considerando que este “grande estabelecimento” compreendia cadeiras necessárias a

um estudo subsidiário das outras Faculdades, especialmente [...] de Medicina, e de Matemática (cujas instituições seriam menos proveitosas faltando-lhes o fundamento desta ciência) mas também um manancial perene para difundir e derramar por toda a extensão destes reinos e seus domínios os conhecimentos e luzes de tão importante ciência25.

O plano previa que a cadeira de Filosofia Racional e Moral fosse incorporada nos estudos preparatórios à Universidade, que na cadeira de Química não se tratasse com especialidade da Metalurgia e que esta fosse ensinada à parte no 4º ano do curso, a par da nova cadeira de Agricultura.

Simultaneamente, retoma-se, na Congregação da Faculdade de Filosofia de 24 de maio de 1806, uma recomendação do príncipe regente, contida em carta régia de 1 de abril de 1806, determinando que « o reitor-reformador com a Congregação da Faculdade Filosófica » organize os planos de viagens filosóficas « e os faça sucessivamente executar pelas diferentes províncias e distritos dos meus reinos, e senhorios » e que «eleja os membros da Faculdade mais capazes» para essas missões científicas26.

O fomento das viagens filosóficas, impulsionado por anteriores experiências, nomeadamente no Brasil com a expedição de Rodrigues Ferreira à Amazónia, correspondia à intenção reafirmada pela monarquia de desenvolvimento económico do império português. Por isso, com fundadas esperanças, em janeiro de 1806, D. João escrevia à Universidade de Coimbra:

Tomando agora na minha real consideração este particular objeto, e atendendo ao muito que convém aplicar as luzes da filosofia natural ao descobrimento das imensas riquezas e preciosidades, que a natureza liberalizou com os meus reinos e senhorios, para aproveitar aquelas, de que não há notícias, e muitas que se desprezam; à indagação das numerosas e úteis produções de quase todos os países e partes do mundo, que facilmente se acomodam aos felizes climas e terrenos de Portugal e suas colónias, para que sendo naturalizados, se tire delas o partido, que tiram as nações que as possuem ; e à observação enfim e exame das diferentes práticas de agricultura, e das artes, e do estado em que se acham as fábricas e manufaturas, para que fazendo-se-lhes as competentes reformas (digo convenientes reformas e melhoramentos) se aperfeiçoem de sorte as produções da arte, que possam competir às nacionais, e entrar em concorrência com as estranhas : E atendendo outrossim, a que os meios mais próprios, que empregam as nações sábias e industriosas, para satisfazerem aos ditos objetos, são as viagens e expedições filosóficas ; e a que tem já resultado muitas utilidades das que tenho mandado fazer em algumas partes dos meus domínios: sou servido ordenar, que elas se empreendam e executem com os sobreditos fins: E como a Faculdade de Filosofia da Universidade professa e cultiva os ramos da Filosofia Natural [...] só dela posso e devo esperar o bom desempenho das minhas reais intenções27.

A fim de dinamizar as atividades escolares e preparar as missões confiadas à Faculdade de Filosofia, o reitor-reformador, D. Francisco de Lemos, convocou a Congregação da Faculdade e programou uma série de visitas guiadas aos equipamentos laboratoriais da Universidade. Rodeado pelo respetivo corpo académico, visitou, a 14 de janeiro de 1807, os gabinetes de História Natural e de Física, a 16 o Laboratório Químico e a secção de Metalurgia e a 17 o Jardim Botânico. Destas visitas resultaram várias recomendações práticas de inventário, conservação, ampliação e aplicação destes equipamentos ao ensino28.

A inspeção aos laboratórios e espaços de experimentação foi despoletado pela lei de 1 de dezembro de 1804 e pela carta régia de 22 de novembro de 1805 e deu lugar a um intenso debate interno, em que tomaram parte os professores do curso filosófico. Aquando da discussão, o professor de Metalurgia também apresentou uma proposta.

Contra o voto dos seus colegas, Bonifácio de Andrada defendeu, em 1807, a fusão das Faculdades de Filosofia e Matemática29. Estes seus primeiros apontamentos, produzidos exatamente no ano da primeira invasão francesa (1807), acabaram por ser objeto de amadurecida reflexão num escrito posterior conhecido como Memória do desembargador José Bonifácio de Andrada e Silva sobre os meios de prepararem no Reino os estudos e métodos para o seu estudo. O documento que reporta a referida memória foi integrado nos papéis do Conselho de Decanos da Universidade e tem a data de 15 de novembro de 181130.

No ano em que o lente de Metalurgia reclamou junto da Fazenda da Universidade o pagamento de vencimentos em atraso, depois de um período prolongado de suspensão das aulas, por força das campanhas napoleónicas, ofereceu também ao Conselho de Decanos da Universidade uma estruturada proposta de reforma da Faculdade de Filosofia ou «Faculdade Filosófica», como lhe chama, distinta na seleção e arrumação das matérias e substancialmente mais pragmática da que vigorava à época.

Começou por atribuir a letargia da escola e a falta de autonomia do curso filosófico à articulação inicialmente prevista da novel Faculdade com a reformada Faculdade de Medicina:

sei igualmente que a Faculdade de Filosofia, a que fui incorporado, sendo hoje em dia na Europa a primeira em estimação pelo seu objeto, e pelos grandes proveitos que traz às Nações, onde seriamente é cultivada esta Ciência; em Portugal por uma fatalidade inexplicável, parece ser um mero estabelecimento subsidiário da Medicina31.

Partindo do particular para o geral, propôs novas conexões na axiomática de saberes e sustentou que o curso filosófico devia conter cadeiras teóricas fundamentais (1º e 2º anos), cadeiras aplicativas e cadeiras de execução, do 3º ao 5º ano. De acordo com a sua Metodologia, o «Curso Filosófico [iniciar-se-ia pelo] estudo da chamada História Natural », levando os alunos « a conhecer individualmente os corpos naturais, caracterizá-los, distingui-los, numerá-los, e por fim a reduzi-los em grupos mais ou menos gerais, por meio de uma classificação verdadeiramente filosófica, e quanto for possível, natural32 ». No primeiro ano, segmentou a História Natural em Botânica e Zoologia, relegando a Mineralogia para segundo ano, e agregou a Química e a Docimasia ao ano inaugural do curso.

A Química surgia como disciplina charneira da Faculdade, desempenhando mesmo uma função central na transição para o 2º. Ano. Conforme escreveu Bonifácio de Andrada, «Munido com todos estes conhecimentos é então que o aluno pode entrar no estudo das diversas doutrinas, que formam hoje em dia o todo da Ciência »33.

O segundo ano era ocupado por duas disciplinas fundamentais : Física e Mineralogia, pois « Para saber somente bem caracterizar, numerar, e classificar os Minerais simples, quanto mais as rochas, matrizes, e betas, são precisas notas físicas e químicas, além das sensíveis […] demais a Mineralogia é uma Ciência que abraça, como disse, diferentes doutrinas34».

Curiosamente, Bonifácio de Andrada não seguiu à risca a complexa divisão de matérias proposta por um dos seus grandes mestres, o geólogo e mineralogista alemão Abraham Gottlob Werner. Para as ciências da terra considerou uma divisão simples, «isto é, em Ciência Mineralógica de Observação e Ciência Mineralógica de reflexaõ». A primeira, compreendia a História Natural dos minerais e dividia-se em Crictognosia, Geognosia e Economia Mineralógica, tomando por bons os ensinamentos e as arrumações metodológicas de Werner. A segunda, denominada simplesmente de Geologia, dividia-se em Física do globo, Arqueologia e Geogonia.

Os três anos finais do curso, acrescidos, portanto, de mais ano de duração do que o que resultara da reforma de 1772, eram integralmente dedicados ao ensino prático. Neste ponto o lente advogava que «é preciso em uma palavra saber bem manipular, o que só se aprende nas Oficinas, nos campos, nas montanhas e nas minas. Assim não pode o seu estudo ser sedentário35». Logo, no terceiro ano vigoravam cadeiras aplicativas associadas à Agricultura ficando o 4º ano reservado a cadeiras aplicativas associadas à Tecnologia. A matéria de Agricultura mereceu-lhe uma atenção especial, dado que as aulas práticas, coincidindo com os meses de maio a julho, deviam englobar também as sementeiras «de Outono, Inverno e Primavera ». Só com um calendário alargado de atividades os alunos podiam observar e examinar as produções da terra. Para o efeito, sugeria que a Universidade possuísse uma fazenda própria onde diversas plantações se desenvolvessem «e onde se p[udesse]m fazer todos os novos ensaios de melhoramento e de novas culturas36».

As matérias de Tecnologia e Mineralogia, colocadas no 4 º e 5º anos do curso, constituíam áreas de capital importância para a industrialização do país, para a Economia, Administração e Finanças Públicas. Neste contexto, Bonifácio de Andrada realçou a importância da Economia Política e dos seus ensinamentos, sem, contudo, conferir qualquer autonomia às matérias económicas no curso filosófico. Englobando também a Agricultura,

Os Lentes destas três últimas cadeiras deverão explicar a Economia tanto particular, como política dos ramos das suas respetivas doutrinas; e deste modo se poderá dispensar uma Cadeira própria de Economia, cujos conhecimentos são indispensáveis a todos os que se empregam em qualquer ramo de administração tanto pública como particular 37.

O plano de reforma da Faculdade de Filosofia que concebeu para o pós-guerra, era avançado, minucioso e revestia um carácter prático. Apostando na valorização de conhecimentos úteis, tendência consolidada a partir da reforma pombalina, transformava assim a Universidade em porta de acesso e de entrada em Portugal de tecnologia de ponta produzida no estrangeiro. Para além disso, era claro o seu propósito de ligar a Ciência do Governo à Filosofia Natural e à Economia. Influenciado pelo cameralismo germânico, apontou expressamente as profissões de carácter administrativo e económico ao alcance dos estudantes habilitados com o curso de Filosofia. Mas, dada a natureza política e judicial dos cargos que poderiam exercer, acrescentou que estes estudantes deveriam ter também formação jurídica, mormente em matérias de direito pátrio.

A concretização do seu plano de reforma da Faculdade de Filosofia terá sido frustrada devido ao conservadorismo do claustro académico, à resistência da elite governativa e às difíceis condições económicas que o país enfrentou depois das invasões francesas (1807-1811). Desmotivado e cada vez mais ausente e envelhecido, Bonifácio de Andrada abandonou definitivamente a Universidade após alcançar carta régia de jubilação, em 1814. Ainda assim ficara na memória da academia o bravo exemplo de patriotismo que evidenciara, mormente nos anos de 1808 e 1809.

Pro Fide, Pro Rege, Pro Patria

Numa conjuntura marcada pela guerra e pela incerteza a respeito dos rumos políticos do país, Bonifácio de Andrada revelou um indisfarçável brio patriótico. No seu espírito o amor à pátria e o sentido cosmopolita dos valores que defendia encontravam-se intimamente unidos. A virtude por excelência do bom cidadão, o patriotismo, devia fortalecer-se pela prática da virtude, pela educação, pela liberdade, e, em caso extremo, pelo recurso às armas, tal como defendera Fichte38.

Durante as invasões francesas (1807-1811), a pátria foi declarada em perigo e os cidadãos foram chamados ao alistamento militar. A Universidade participou ativamente da convulsão política trazida pelas invasões francesas. O reitor D. Francisco de Lemos procedeu de acordo com o voto expresso da elite dirigente do reino. Sem visível oposição do claustro académico, garantiu publicamente obediência ao governo francês e foi depois designado, em 23 de Fevereiro de 1808, membro da deputação a Baiona. Com outras figuras representativas da sociedade portuguesa, aceitou assim ser intérprete de todas as classes do reino, em audiência com Napoleão39.

Em Coimbra, dominava ainda a opinião daqueles que “excessivamente receosos, e tímidos, ou insolentemente caluniadores” – as palavras são de Frei Fortunato de S. Boaventura – «chegarão a presumir que a Universidade ou não tomaria parte em a nossa restauração, ou se abalançaria a declarar-se pelos Franceses» 40. A voz deste professor da Faculdade de Teologia fazia assim ecoar em língua portuguesa a opinião que corria impressa em vários papéis e escritos franceses, que davam como certa a adesão da instituição universitária ao domínio de Napoleão. Por outro lado, no seio da magistratura, algumas iniciativas de conciliação com o ocupante estrangeiro apontavam para o horizonte de expectativa criado pela desejada vigência do Código de Direito Civil de 180441.

Neste contexto, percebem-se as fraturas no seio da elite académica durante a ocupação francesa de 1807-1811. Em termos de direito público, a posição de José Bonifácio de Andrada e de outros espíritos esclarecidos da academia – que se opuseram através da luta armada ao domínio napoleónico em Portugal – tinha como fundamento a defesa da legítima resistência do povo ao jugo de um poder considerado tirânico e usurpador. Com este argumento, em junho de 1808, sob comando do vice-reitor Manuel Pais de Aragão Trigoso Pereira de Magalhães, e na qualidade de sargento-mor do Corpo de Voluntários Doutores, José Bonifácio pegou em armas, preparou munições e coordenou operações militares de resistência. Em colaboração com o primeiro Lente de Química, Tomé Rodrigues Sobral, constituiu a chamada Companhia dos Artífices, com o encargo de produzir munições e pólvora, no Laboratório Químico da Universidade, para abastecimento da resistência do Corpo de Voluntários Académicos42.

Para dar maior visibilidade a esta campanha, a Minerva Lusitana (1809-1811), o primeiro jornal fundado em Coimbra, não só cunhou o patriotismo académico, dando voz à liberdade e rosto à virtude cívica, como erigiu em símbolos de resistência maior os feitos do Corpo de Voluntários Académicos. Por esse tempo, o grito da Academia era o do amor pátrio que congregava a comunidade e estimulava os cidadãos a lutarem, com ardor, pelo bem comum e pela felicidade geral. Esse clamor ficou para sempre gravado na inscrição Pro Fide, Pro Rege, Pro Patria que ladeia a insígnia atribuída, como prémio de honra e fidelidade, a todos os membros do Corpo de Voluntários Académicos43.

Com a progressão da guerra, interromperam-se as aulas na Universidade de Coimbra, e sob o comando do coronel Trant, governador britânico de armas, Bonifácio de Andrada é encarregado da conceção dos trabalhos de hidráulica para fortificação da cidade. No ano seguinte, em 1809, depois das tropas francesas, sob comando de Soult terem ocupado o Porto, José Bonifácio assumiu, integrado no corpo militar académico, um papel destacado na campanha do Vouga, destinada a travar a progressão dos invasores para sul. «Pela sua louvável e assombrosa intrepidez », como escreve Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, foi promovido a tenente-coronel e chamado a integrar o Conselho de Segurança ou de Guerra44. Sempre na primeira linha de operações, colaborou ativamente, ao lado das forças inglesas aliadas, na recuperação do Porto, em maio de 1809. Nos dois meses que aí permaneceu exerceu, interinamente, o cargo de Intendente Geral de Polícia, contribuindo para pacificar as populações, para fomentar medidas de higiene e salubridade pública e para organizar o auxílio às vítimas da guerra. Beresford, reconhecendo a bravura do destacamento militar académico determinou a sua marcha até Almeida, com o intuito de fazer participar este corpo de elite na guerra comum travada em Espanha contra os franceses. Na sua qualidade de voluntário, Bonifácio de Andrada recusou, todavia, transpor a fronteira com as suas tropas e retornou a Coimbra. Apesar do desagrado que esta decisão provocou junto da chefia britânica do exército português, a lealdade e a valentia do corpo de voluntários mereceu o justo louvor dos governadores do reino, em nome do príncipe regente, ausente no Rio de Janeiro.

Entretanto, quando ocorreu, em 1810, a invasão de Massena, José Bonifácio, então a residir em Lisboa, tentou, a todo o custo, reativar o Corpo de Voluntários Académicos, expedindo, na sua qualidade de tenente-coronel e comandante daquele batalhão, sucessivos editais – entre 23 de outubro e 19 de novembro de 1810 – para alistamento de alunos e professores45. As difíceis condições impostas pelo arrastamento da guerra levaram-no a sugerir o alargamento do recrutamento, em regime de voluntariado, também aos alunos do Colégio dos Nobres e da Academia da Marinha e Fortificação46. A manifesta discordância do Marechal Beresford acabou por frustrar não só esta iniciativa mas também a participação na guerra das duas magras companhias de infantaria ligeira, compostas por estudantes.

Enfim, antes mesmo da extinção oficial do corpo militar académico, em 15 de Abril de 1811, na prática, este já se encontrava desativado, por imposição do comando militar britânico. Os testemunhos inéditos de José Bonifácio, que datam desta época, evidenciam desânimo, revolta e vontade de abandonar o reino em direção ao Brasil. Lamentou, na qualidade de Intendente Geral de Minas e Metais do Reino, a sistemática política de desaproveitamento da produção de carvão de pedra de Buarcos e do Porto, em prol da importação inglesa dos mesmos recursos energéticos47, denunciou erros e injustiças dos governadores do reino, e aguardou desde 1811 que lhe fosse emitido o necessário passaporte a fim de partir, definitivamente, para o Brasil48.

Não podendo evadir-se, sem passaporte e sem autorização superior, como fez o soldado académico Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva que, no Rio de Janeiro, deu a conhecer a verdadeira expressão do Patriotismo Académico (1812), os dramas da guerra e as terríveis dificuldades experimentadas por todos os cidadãos que participaram na libertação do reino, Bonifácio de Andrada permaneceu no reino, contra a sua vontade, passando cumulativamente a exercer o cargo de Secretário Perpétuo da Academia Real das Ciências, até 1819, data em que abandonou definitivamente Portugal.

Num outro horizonte político, o patriotismo que tão intensamente marcou esta fase menos conhecida da vida pública de José Bonifácio de Andrada acabaria por ressurgir, como fio condutor do combate que travou em prol da independência do Brasil, terra natal e pátria de uma nova família política que despontava sob o signo da ordem e debaixo do primado da lei e da liberdade.

Bibliographie

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Annexe

SIGLAS:
ANTT – Arquivo Nacional da Torre do Tombo
AHM – Arquivo Histórico Militar
AUC – Arquivo da Universidade de Coimbra
BGUC – Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra
IHGB – Instituto Histórico Geográfico Brasileiro

Notes

1 La traduction de cet article a été soutenue par le CHSC, unité de recherche financée par la Fondation pour la Science et la Technologie (FCT) UIDB/00311/2020. Retour au texte

2 LEMOS, 1980, p. 232. Retour au texte

3 ARAÚJO e FONSECA (coord.), 2017; SILVA, 2018. Retour au texte

4 DOMINGUES, 2000, p. 19-34 e PAQUETTE, 2003, p. 27-35. Retour au texte

5 BRIGOLA, 2003, p.186 e ss. Retour au texte

6 KURY, 2004, p. 109-129, e PATACA, 2006. Retour au texte

7 SIMON, 1983. Retour au texte

8 Com mais informação, DE SOUSA, 1988, e VARELA, 2006. Retour au texte

9 CAVALCANTI, 2001. Retour au texte

10 IHGB, Livro 192, Pasta 59, Notas Filosóficas, algumas em francês, sl., sd. Retour au texte

11 CRUZ, 1979, p. 217-276 e COELHO, 1877. Retour au texte

12 AUC, B/001-001/A/001966- Atos e graus de José Bonifácio de Andrada e Silva. Retour au texte

13 VARELA, LOPES e DA FONSECA, Dez. 2004. https://doi.org/10.1590/S0104-59702004000300008. Com informação específica sobre a sua produção memorialística na Academia das Ciências de Lisboa, VARELA, 2017, p. 119-142. Retour au texte

14 FALCÃO, (org.), 1965, p. 41-43. Retour au texte

15 SOUSA, 1988, p. 24 -27, e CLOCLET DA SILVA, 1999, p. 29-30. Retour au texte

16 FURTADO, 2019, p. 176. Retour au texte

17 SIMÕES, DIOGO e CARNEIRO, 2006, p. 56. Retour au texte

18 DURIS, 1993, p. 81-82, p. 95. Retour au texte

19 FALCÃO, (org.), 1963, p. 103-114; DOLHNIKOFF, (org.), 1998, p. 45 -125 e CALDEIRA, 2002, p. 183-199. Retour au texte

20 MAXWELL, 1999. Retour au texte

21 ANTT, Arquivo dos Condes de Linhares, maço 63/116 – carta datada de Hamburgo, 23-06-1799. Retour au texte

22 Ibidem. Retour au texte

23 ANTT, Arquivo dos Condes de Linhares, Maço 64/10. Nesta cota encontram-se 5 cartas dirigidas ao conde de Linhares por José Bonifácio de Andrada e Silva, 4 datadas respetivamente de: 19-11-1802; 22-11-1802; 30-07-1804; e 12-08-1804. A 5ª carta tem apenas a indicação de ter sido escrita a 24 de dezembro (provavelmente de 1802) Assuntos em destaque são: a Intendência de Minas e Metais do Reino; a Casa da Moeda; a Diplomacia em Marrocos; a Metalurgia e ensaios para eventual utilização da máquina a vapor. Retour au texte

24 Actas das Congregações da Faculdade de Filosofia, p. 264-265. Retour au texte

25 Ibid., p. 268-269. Retour au texte

26 Ibid., p. 304. Retour au texte

27 Ibid., p. 304-305. Retour au texte

28 Ibid., p. 312- 316. Retour au texte

29 BGUC, Papéis relativos à instrução pública destes reinos, ms. 2536/12. Retour au texte

30 ANTT, Ministério do Reino. Instrução. Consultas do Concelho de Decanos da Universidade de Coimbra, 1779-1831, maço 517, caixa 643, doc. inum. Retour au texte

31 ANTT, Ministério do Reino. Instrução. Consultas do Concelho de Decanos da Universidade de Coimbra, 1779-1831, maço 517, caixa 643, doc. inum. Em estudo recente, a proposta de reforma do curso filosófico da autoria de José Bonifácio de Andrada, até há pouco desconhecida, mereceu a atenção e foi objeto de análise comparada. ALVES, 2021, p. 225-229. Retour au texte

32 Ibid. Retour au texte

33 Ibid. Retour au texte

34 Ibid. Retour au texte

35 Ibid. Retour au texte

36 Ibid. Retour au texte

37 Ibid. Retour au texte

38 ROSALES, 2008, p. 325-345. Retour au texte

39 ARAÚJO, 2022, p. 212. Retour au texte

40 Cit. in MARTINS, 1944, vol. 1, p. 46. Retour au texte

41 ARAÚJO, 2022, p. 213. Retour au texte

42 ARAÚJO, 2009, p. 275-308 e LIMA, 1941. Retour au texte

43 ARAÚJO, 2022, p. 214. Retour au texte

44 SILVA, 1812, p. 98 e BARREIROS, 1918, p. 57. Retour au texte

45 AHM, 1º div, 14, cx.137, nº 14, ofício datado de 27 de Outubro de 1810 de José Bonifácio de Andrada e Silva para D. Miguel Pereira Forjaz, remetendo o «rol de estudantes que têm dado o nome para a formação e organização do Corpo Militar Académico». No mesmo fundo documental veja-se, também, na 1º div, 14, 278, nº 22, o ofício datado de 9 de Fevereiro de 1811 de José Bonifácio de Andrada e Silva para D. Miguel Pereira Forjaz, informando da dificuldade de alistamento dos estudantes. Para além da documentação inédita que citamos, deve consultar-se Lima, 1941 e 1942. Retour au texte

46 AHM, 1º div, 14, cx.137, nº 3- 14, ofícios datados respetivamente de 2, 15, 16 e 27 de Novembro de 1810 de José Bonifácio de Andrada e Silva para D. Miguel Pereira Forjaz. Retour au texte

47 AHM,1º div, 14, cx.137, ofício datado de 2 de Novembro de 1810 de José Bonifácio de Andrada e Silva para D. Miguel Pereira Forjaz. Retour au texte

48 AHM,1º div, 14, cx.177, ofício datado de 10 de Janeiro de 1811 de José Bonifácio de Andrada e Silva para D. Miguel Pereira Forjaz. Retour au texte

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Ana Cristina Araújo, « As Luzes no espaço luso-brasileiro: repensar as redes cosmopolitas e políticas de conhecimento a partir do caso de José Bonifácio de Andrada e Silva », Reflexos [En ligne], 9 | 2025, mis en ligne le 16 mars 2025, consulté le 17 juillet 2025. URL : http://interfas.univ-tlse2.fr/reflexos/1878

Auteur

Ana Cristina Araújo

araujo.anacris@sapo.pt

Universidade de Coimbra

Centro de História da Sociedade e da Cultura

https://orcid.org/0000-0001-5267-8196

https://www.cienciavitae.pt/pt/C812-DDC3-C9A3

Ana Cristina Araújo é Professora Associada com Agregação na Universidade de Coimbra, investigadora do Centro de História da Sociedade e da Cultura e diretora da Revista de História das Ideias. Dos seus livros, destaca: A morte em Lisboa. Atitudes e Representações (1700-1830), Lisboa, 1997; A Cultura das Luzes em Portugal. Temas e Problemas, Lisboa, 2003; O Marquês de Pombal e a Universidade(coord.), Coimbra, 2000 e A Universidade Pombalina. Ciência, território e coleções científicas (coord.), Coimbra, 2017. Participou em mais de cinquenta obras coletivas e é autora de largas dezenas de artigos sobre História das Ideias e da Cultura nos séculos XVIII e XIX.

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