Construções (semi-)idiomáticas com [VPAGARX] e [VPAGAR deX]: vexação e fingimento na construção de sentido

  • Construções (semi-)idiomáticas com [VPAGARX] e [VPAGAR deX]: vexação e fingimento na construção de sentido
  • Constructions (semi-)idiomatiques avec [V PAGARX] et [VPAGAR deX] : vexation et prétention dans la construction du sens
  • Idiomatic constructions with [V PAGARX] and [VPAGAR deX]: vexation and pretense in the construction of meaning

Com base nos pressupostos da Gramática de Construções (GC) e da Linguística Cognitiva (LC), mais precisamente da Gramática Cognitiva, são analisadas, neste artigo, as ocorrências de construções (semi-)idiomáticas com o verbo pagar, coletadas no Corpus do Português (DAVIES, FERREIRA 2006) e no Dicionário inFormal (www.dicionárioinformal.com.br). O objetivo deste artigo é descrever como o pareamento forma-significado é importante para explicar as expressões (semi-)idiomáticas, selecionadas no corpus, uma vez que a interpretação semântico-pragmática não se dá de forma composicional. Especificamente, objetiva-se analisar os padrões semipreenchidos [VPAGARX] e [VPAGARdeX], que selecionam, no slot X, um SN ou SAdj com uso metafórico/metonímico, cuja interpretação semântico-pragmática está relacionada à situação de constrangimento/vexação e fingimento de estado. Os resultados mostraram que ambos os padrões apresentam valor axiológico negativo – sendo que [VPAGARdeX] é frequentemente utilizado com valor axiológico negativo de fingimento de estado, e [VPAGARX] tende a apresentar maior frequência de uso em situações de constrangimento/vexação, a depender do contexto de uso.

Sur la base des hypothèses de la Grammaire de Construction (GC) et de la Linguistique Cognitive (LC), plus précisément sur la Grammaire Cognitive, cet article analyse les occurrences de constructions (semi-)idiomatiques avec le verbe pagar, recueillies dans le Corpus do Português (DAVIES, FERREIRA 2006) et dans le Dictionnaire inFormal (www.dicionárioinformal.com.br). L’objectif est de décrire en quoi l’appariement entre forme-sens est important pour expliquer les expressions (semi-)idiomatiques sélectionnées dans le corpus, considérant que l’interprétation sémantique-pragmatique ne se fait pas de manière compositionnelle. Plus précisément, l’objectif est d’analyser les schémas semi-remplis [VPAGARX] et [VPAGARdeX], qui sélectionnent, dans le slot X, un SN ou SAdj à usage métaphorique/métonymique, dont l’interprétation sémantique-pragmatique est liée à la situation d’embarras/vexation et prétention d’un état. Les résultats ont montré que les deux modèles ont une valeur axiologique négative – étant donné que [VPAGARdeX] est fréquemment utilisé avec une valeur axiologique négative de prétention d’un état, et [VPAGARX] tend à présenter une fréquence d’utilisation plus élevée dans les situations d’embarras/vexation, selon le contexte d’utilisation.

Based on the assumptions of Construction Grammar (CG) and Cognitive Linguistics (CL), more precisely of Cognitive Grammar, this article analyzes the occurrences of (semi-)idiomatic constructions with the verb pagar, collected from the Corpus do Português (DAVIES, FERREIRA 2016) and the Dicionário inFormal (www.dicionárioinformal.com.br). The aim is to describe the importance of the form-meaning pairing in explaining the (semi-)idiomatic expressions selected from the corpus, since the semantic-pragmatic interpretation does not take place in a compositional way. Specifically, the objective is to analyze the half-filled patterns [VPAGARX] and [VPAGARdeX], which select, in slot X, a SN or SAdj with metaphorical/metonymic usage, whose semantic-pragmatic interpretation is related to the situation of embarrassment/vexation and pretense of state. The results showed that both patterns have a negative axiological value – with [VPAGARdeX] being frequently used with negative axiological value of state pretense, and [VPAGARX] tending to be used more frequently in situations of embarrassment/annoyance, depending on the context of use.

Plan

Texte

Introdução

Os estudos sociocognitivos da linguagem possibilitaram a inclusão do sujeito no processamento discursivo, assim a linguagem passou a ser concebida como uma construção intersubjetiva por meio de práticas discursivas e cognitivas social e culturalmente situadas. Desse modo, o contexto sociodiscursivo passa a ser um dos componentes da construção do sentido.

Por conseguinte, surgem novos paradigmas nos estudos da linguagem a partir dos questionamentos à tradição gerativista de Noam Chomsky – à época a Gramática Gerativa exercia hegemonia em relação aos estudos estruturalistas que a precederam. Assim, um grupo de linguistas insatisfeitos com a teoria chomskiana para dar conta das irregularidades na língua (isto é, a presença de tipos de irregularidade sintática e/ou semântica), dentre elas, as expressões idiomáticas − tratadas de forma periférica pela tradição gerativista –, busca explicações para essas irregularidades.

Nesse cenário, a equipe de linguistas formada, inicialmente, por George Lakoff, Charles Fillmore e Paul Kay pensam em um viés teórico que desse conta das relações entre léxico e sintaxe, que não fosse constituído por módulos rigidamente separados, mas que formassem um continuum de construções. Sob essa perspectiva, emergem novas concepções teóricas, a exemplo da Linguística Cognitiva (LC) e da Gramática de Construções (GC) − que se preocupam com a construção do sentido, levando em consideração o contexto sociocognitivo e interacional entre os participantes da interação.

A Linguística Cognitiva:

adota uma perspectiva não modular, que prevê a atuação de princípios cognitivos gerais compartilhados pela linguagem e outras capacidades cognitivas bem como a interação entre os módulos da linguagem, mais especificamente, entre estrutura linguística e conteúdo conceptual. (FERRARI 2011, 14).

A GC, por sua vez, além de se opor à perspectiva modular de linguagem da gramática gerativa, propõe que “as expressões linguísticas, desde as mais simples até as mais complexas, constituem unidades simbólicas baseadas em correspondência entre forma e significado”. Desse modo, no modelo proposto por Fillmore (1988) e por Kay e Fillmore (1999), “a abordagem da gramática baseada em ‘palavras e regras’ não consegue dar conta de um subconjunto da linguagem, que envolve irregularidades” (cf. FERRARI 2011, 129-130).

É neste contexto que se insere esse artigo, pois o objetivo geral é apresentar uma rede construcional de predicadores com o verbo pagar, a partir dos contextos reais de uso, tendo como objetivo específico analisar dados vinculados à construção semi-idiomática com este verbo no PB (ou seja, examinar um padrão cuja interpretação semântico-pragmática não é composicional), a qual será representada pelos padrões construcionais semipreenchidos [VPAGARX] e [VPAGARdeX], que podem selecionar no slot X um sintagma nominal (SN) e/ou um sintagma adjetival (SAdj.), cuja interpretação semântico-pragmática pode apresentar distintos sentidos, como nos exemplos abaixo.

(1) Após “pagar peitinho” no “BBB21”, Viih Tube brinca: “Vamos normalizar isso.” (Disponível em: https://br.noticias.yahoo.com/bbb21-viih-tube-brinca-pagar-peitinho-vamosnormalizar201152559.html)

(2) Ai ai ai, paga de louca, veste a roupa e sai./ Trecho da música “Paga de louca” de Felipe Araújo e Dilsinho. (Disponível em: https://www.letras.mus.br/felipe-araujo/paga-de-louca-part-dilsinho/).

Como observado no enunciado (1), trata-se da realização de um ato pragmático de exposição de parte do corpo feminino, instanciado pela construção [VPAGAR+SN]. O fato narrado no enunciado (1) ocorreu no “reality show BBB21” com uma das concorrentes ao prêmio milionário, Viih Tube, codinome de uma youtuber chamada Vitória, que tem mais de 11 milhões de seguidores.

Assim como “pagar peitinho” (ato de mostrar os seios involuntariamente), também foi encontrado nos corpora “pagar cofrinho”, “pagar bundinha”, entre outros. Ou seja, essa construção [VPAGAR+SN], que apresenta produtividade na língua, nesses exemplos, relaciona-se metonimicamente à exposição involuntária do corpo humano que, a depender das situações reais de interação, tem o sentido de causar constrangimento/vexação nos participantes.

No que tange ao enunciado (2), observa-se um apelo do enunciador para que uma determinada mulher se finja de louca, vista a roupa e saia. Observa-se que a alteração da forma [Vpagar X] para [VPAGARdeX] implica a mudança de significado, pois no exemplo (2) o sentido é de fingimento de estado (fingir-se de louca), o que, segundo Abraçado (2021, 1175), trata-se de uma “uma transferência, na avaliação do enunciador, de características ou atributos de uma dada entidade para outra”. Ainda no que se refere ao enunciado (2), parece haver uma certa sistematicidade na construção [VPAGARdeX.] que licencia [VTIRARdeX], [VFAZERdeX]. Percebe-se, portanto, que nos exemplos (1) e (2) as construções [VPAGAR+SN] e [VPAGARde+SAdj.] não são composicionais, isto é, não são analisáveis em seus componentes constitutivos separadamente.

Já os exemplos a seguir, apresentam construções composicionais analisáveis, sendo constituídas do verbo predicador pagar mais objeto direto em (3) “as minhas contas” e em (4) “juros maiores”.

(3) “Mas, eu precisava pagar as minhas contas e comecei a trabalhar como diretor de fotografia em publicidade.”

(4) “É importante para a companhia poder administrar seu endividamento. Não é racional ela pagar juros maiores quando o mercado oferece condições melhores a ela, diz diretor.”

Sendo assim, os enunciados 3 e 4, extraídos do Corpus do Português, diferem dos enunciados 1 e 2 por apresentarem uma interpretação semântico-pragmática composicional, isto é, pagar como verbo predicador bitransitivo relaciona-se a transações financeiras, contração de dívidas, em consonância com seu sentido etimológico e básico, pois a construção sem elipse à esquerda [X TRANSFERE SN PARA SN] refere-se à transferência de um dado valor monetário para pagamento de um produto ou quitação de uma dívida em que X transfere Y para Z. Ou seja, de acordo com Abraçado (2021, 1167), trata-se da “obrigação de um devedor, em relação a um credor, em termos jurídicos e sociais (o que em alguns casos pode resultar em situações de constrangimento e vexação).” Por outro lado, se utilizado de modo instrumental, pagar pode assumir outros valores nas unidades complexas em que participa, pois ao se ligar a um elemento que não é verbo, pode formar uma unidade complexa que funcione tal qual um verbo simples/verbo predicador simples, que se assemelha a um verbo suporte ou semi-suporte. Como se pode observar, o verbo pagar tem uma extensa rede construcional, com variados graus de (semi-)idiomaticidade no continuum predicador a verbo-suporte e, ao adquirir no pareamento forma-significado um novo sentido, pode ser identificado como uma construcionalização lexical.

Neste artigo, serão focalizadas, no entanto, as construções semi-idiomáticas [VPAGARX] e [VPAGARdeX]. Desse modo, pretende-se responder às seguintes perguntas de pesquisa: i) Pode-se afirmar que o contexto sociocognitivo e interacional exerce influência na preferência pelos usos dessas construções? ii) Os padrões construcionais [VPAGARX] e [VPAGARdeX] seriam uma detecção de (semi-)idiomatismos com níveis de cristalização diferentes/graus de idiomaticidade? e iii) As construções idiomáticas com o verbo pagar são frequentemente usadas quando relacionadas ao corpo feminino, o que poderia evidenciar uma orientação machista desse uso?

Para responder a essas perguntas, a análise será baseada nos pressupostos da GC articulada aos pressupostos da LC, mais especificamente, da Gramática Cognitiva. No que tange ao ponto de vista metodológico, a análise será baseada em uma pesquisa qualitativo-interpretativa e quantitativa de dados extraídos de corpora do Corpus do Português e do Dicionário InFormal .

Por expressões idiomáticas EIs, entende-se que são:

unidades simbólicas: unidades de representação morfossintática que estão relacionadas com propriedades funcionais – semânticas ou discursivo-pragmáticas – ímpares, incomparáveis às de outras formas. Em outras palavras, são concebidas como combinações de vocábulos que se caracterizam multidimensionalmente: qualquer expressão idiomática se configura num continuum que lida com fatores de diferentes dimensões (fonético-fonológica, lexical, morfossintática, semântica, pragmática e cognitiva). (MACHADO VIEIRA 2014, 106).

Ainda conforme Machado Vieira (2014, 121), essas expressões:

alcançam idiomaticidade lexical, morfossintática, semântico-pragmática e de frequência e resultam, ao que parece, no que vem sendo chamado de construcionalização lexical, já que adquirem instantaneamente, um pareamento forma-significado completamente novo que tem funcionamento lexical e não é acessado ou previsto a partir da combinação regular das propriedades das suas partes constitutivas.

Em geral, as EIs são identificadas em construções metafóricas e metonímicas, cujas palavras que as compõem perdem sua significação primitiva e assumem, no conjunto, um sentido global para transmitirem de maneira mais enfática aquilo que a linguagem denotativa não o faz com o mesmo efeito.

Nos estudos linguísticos contemporâneos, de acordo com Alves (2020), houve um vasto número de descrições de EIs na língua inglesa, entretanto no PB a porção idiomática ainda carece de análise. Machado Vieira (2014) já alertava que o interesse pelos estudos das construções irregulares e, principalmente, dos idiomatismos, sob a perspectiva da Gramática Construcional, vinha crescendo, no entanto se limitava a considerações gerais sobre a sua não composicionalidade e a sua significação idiossincrática ou figurada. Ou seja, na literatura linguística, o tratamento dado não é muito diferente do encontrado em estudos sem orientação teórica construcionista (cf. MACHADO VIEIRA 2014). Observa-se, portanto, que o ramo de estudos das expressões idiomáticas, sob a perspectiva da GC e da Gramática Cognitiva, é bastante promissor.

Este artigo está estruturado da seguinte forma: (i) na seção 2, são explicitados os procedimentos metodológicos adotados para realização da pesquisa. Em seguida, na seção 3, são explicados os procedimentos de análise, enfatizando a importância da utilização de processos cognitivos de domínio geral para explicar as EIs, com uma breve discussão. Por fim, as considerações finais trazem uma síntese da pesquisa, com destaque para as contribuições dos estudos das construções semi-idiomáticas do PB que foram selecionadas nos corpora deste artigo.

Desse modo, acredita-se que esta pesquisa possa contribuir com resultados relevantes para os estudos construcionistas, na interface entre a LC e a GC.

Metodologia

Conforme sinalizado na introdução, a proposta desse artigo é investigar: i) se pode-se afirmar que o contexto sociocognitivo e interacional exerce influência na preferência pelos usos dessas construções? ii) se os padrões construcionais [VPAGARX] e [VPAGARdeX] seriam uma detecção de idiomatismos com níveis de cristalização diferentes (graus de idiomaticidade?) e, se iii) As construções idiomáticas com o verbo pagar são frequentemente utilizadas quando relacionadas ao corpo feminino, o que poderia evidenciar uma orientação machista desse uso?

Para isso, essa investigação de natureza qualitativo-interpretativa e quantitativa consiste na análise dos corpora extraídos da plataforma Web/Dialects do Corpus do Português e do Dicionário inFormal, ambos com site na internet. É importante ressaltar que no Dicionário inFormal do português “não existem definições certas ou erradas, mas definições da vida real para o português”. De acordo com o site, trata-se de uma iniciativa de documentar on-line a evolução da língua portuguesa.

Na coleta de dados, foram utilizados os comandos de busca “pagar” e “pagar de”, em ambos os sites, sendo consideradas apenas as ocorrências com interpretação semi-idiomática não composicional, conforme os exemplos (1) e (2) da introdução deste artigo, e descartadas as sequências com interpretação composicional, como ocorre nos exemplos (3) e (4).

Primeiramente, foi realizada uma análise qualitativo-interpretativa de todos os dados a fim de observar o valor semântico subjacente aos diferentes usos pragmáticos dos dois tipos de construção: [VPAGARX] e [VPAGARdeX].

Por fim, com o objetivo de mapear a frequência de uso dessas construções (semi)-idiomáticas nos corpora analisados, foi realizada uma análise quantitativa dos dados. Ao total, foram coletados 395 dados do Corpus do Português – sendo 379 referentes à construção idiomática [VPAGARdeX] e 16 dados referentes à construção [VPAGARX]. Já no que tange ao Dicionário InFormal, foram encontrados apenas o total de 36 dados – sendo 9 referentes à construção [VPAGARdeX] e 27 referentes à construção [VPAGARX]. Verifica-se, portanto, que, no Corpus do Português, foram mais frequentes as ocorrências da construção [VPAGARdeX], já no Dicionário InFormal, a construção [VPAGARX] obteve frequência maior de tokens.

Análise e discussão

No que tange ao caráter semântico-pragmático que subjaz às construções [VPAGARX] e [VPAGARdeX], verifica-se que a soma das partes não é previsível na estrutura linguística, isto é, sua compreensão não é composicional e para acessá-la é necessário evocar conhecimentos sociocognitivos e interacionais, em situações reais de uso. Tais construções (semi)-idiomáticas no PB, evidenciam um padrão construcional em que formas verbais acompanhadas de elementos não-verbais são capazes de formar predicadores complexos (MACHADO VIEIRA 2014, 122). Não obstante, o foco deste artigo está na frequência de usos dos padrões construcionais [VPAGAR X] e [VPAGARdeX], que, por meio do processo de gramaticalização/lexicalização podem formar idiomatismos linguísticos.

Por conseguinte, identifica-se que, os padrões selecionados para a análise, veiculam, frequentemente, um valor axiológico negativo acerca dos interlocutores, de acordo com o contexto interacional. Mais especificamente, a análise semântico-pragmática da construção [VPAGARX] demostrou mais, frequentemente, valor axiológico negativo relacionado a situações de constrangimento/vexação, como ocorre nos exemplos abaixo.

(5) “Cansadas de pagar mico, eu e Larissa pedimos para sair do lugar.” (Disponível em: www.corpusdoportugues.org)

(6) “- Ai, a toalha acabou caindo e eu paguei bundinha para todos que vinham atrás.” (Disponível em: dicionarioinformal.com.br)

Já as construções [VPAGARdeX], na análise semântico-pragmática, demonstrou fingimento de estado dos participantes da interação, como nos exemplos abaixo.

(7) “Ela que planejou tudo agora quer pagar de santinha.” (Disponível em: corpusdoportugues.org)

(8) “Ele sempre paga de bom moço na frente do chefe?” (Disponível em: dicionarioinformal.com.br)

Como se pode observar, nos exemplos (5) e (6) a construção [VPAGARX] está relacionada a contextos interacionais em que os participantes são inseridos em situações de constrangimento/vexação e o slot X é pode ser preenchido por distintos sintagmas nominais.

Ao mudar a construção para [VPAGARdeX], ocorre imediatamente a mudança de sentido, pois nos exemplos (7) e (8) os participantes são apresentados em uma situação de fingimento de estado, ou seja, a construção se caracteriza pragmaticamente pelo fato de os participantes fingirem ser aquilo que não são, e o slot X é preenchido por um sintagma adjetival (SAdj). Não obstante, no exemplo (7), o slot V poderia ser preenchido por outro verbo que mantivesse o sentido, a exemplo do verbo “tirar”, em que o enunciado passaria a: “Ela que planejou tudo agora quer tirar de santinha”. Tal fato pode sinalizar a evidência de possíveis graus de (semi)-idiomaticidade dessa construção.

O Gráfico (1) apresenta a frequência das construções [VPAGARdeX], com função pragmática de fingimento de estado, extraídas do Corpus do Português. Ressalta-se, no entanto, que, por questão de espaço, só foram representados, nesse gráfico, os tokens mais frequentes.

Gráfico 1: Corpus do Português (CP)

Gráfico 1: Corpus do Português (CP)

Como se pode verificar no gráfico 1, há construções (semi)-idiomáticas que ocorrem com mais frequência do que outras, no entanto, não constatamos percentuais baixíssimos, pois a menor frequência foi 5%, que já é um percentual relevante em relação ao corpus.

Por conseguinte, os dados de frequência, no gráfico (1), mostram que a construção [VPAGARdeX], referindo-se ao estado de fingimento dos participantes, alcança maior produtividade na língua. Foram coletados o total de 379 tokens nesta construção, dentre esses, “pagar de fodão” foi o mais frequente com 14% dos tokens; seguido de “pagar de intelectual” com 12% dos tokens; na sequência, “pagar de bom moço” com 9% e “pagar de santa” com 8% dos tokens.

Tal fato pode sugerir que a frequência de acionamento do padrão construcional [V PAGARdeX] fingimento seja um sinal de sistematicidade na organização de novas unidades linguísticas, mas a criatividade e a fertilidade de tokens pode estar no preenchimento de “V” e de “X”. Assim, podemos ter construções como “fazer de santa”, “tirar de santa”, “pagar de louca”, “tirar de louca”, em maior ou menor grau de (semi)-idiomaticidade. Como se pode observar, essa construção [VPAGARdeX] apresenta um perfil de sentido negativo, mas é interessante observar que podem ser preenchidos nela números variáveis de slots, tanto de V quanto de X, o que mostra sua produtividade na língua.

Por outro lado, a construção [VPAGARX], em termos de quantidade de ocorrências, apresentou um total de 16 tokens apenas, demonstrando menor quantidade na plataforma Web/Dialects do Corpus do Português do que no Dicionário InFormal, conforme gráfico 2.

Gráfico 2: Corpus do Português (CP)

Gráfico 2: Corpus do Português (CP)

Do total de 16 dados coletados, observa-se que a construção metafórica “pagar o preço”, de base religiosa, alcança 18% dos tokens; na sequência, as expressões “pagar mico” e “pagar o mal” alcançam ambas 12,5% dos tokens. De modo geral, essa construção [VPAGARX], no Corpus do Português, além de apresentar menor produtividade, é mais frequente em contextos específicos de uso, tais como, os de base religiosa, o que pode ser um indício de sua maior idiomaticidade. As demais expressões, como o gráfico mostra, tendem a um equilíbrio em termos de frequência no Corpus do Português. Convém ressaltar que, nesse gráfico, foram disponibilizadas todos os tokens coletados na amostra.

No que tange aos dados coletados do Dicionário InFormal, por sua vez, obtém-se um total de ocorrências menor no padrão [VPAGARdeX] − comparado ao Corpus do Português −, apresentando apenas 9 tokens com função pragmática de estado de fingimento dos participantes, o que pode ser observado na tabela (1) abaixo.

A construção “pagar de gatão” foi a mais frequente nesta construção e, em termos quantitativos, representou 22% dos tokens. Cabe ressaltar que, ao contrário do Corpus do Português, no Dicionário InFormal, as construções vêm acompanhadas de explicações acerca de seus contextos de uso.

Tabela 1: Corpus do Dicionário InFormal construção [VPAGARdeX]

PAGAR DE X

FREQUÊNCIA

OCORRÊNCIA

CONTEXTO DE USO

Pagar de gatão

22,22%

2

“Esse daí é outro que gosta de pagar de gatão.”

“Esse aí é outro que gosta de pagar de gatão.” (Expressão usada para se referir a alguém que está se comportando como superior ou rei de algum lugar, quando não é nada do que diz ser).

Pagar de mula

11,11%

1

“Pô, Jão tu vai pagar de mula naquela ideia que te dei?” (dar uma de desentendido; fingir de bobo)

Pagar de lord

11,11%

1

“Fulano está pagando de lord! Cheio de grana e correntes.” (ato de tirar onda, pagar de chefe, de poderoso).

Pagar de loko

11,11%

1

“Seja responsável moleque, deixa de pagar de loko!” (o mesmo que fingir que é louco, que fazer doideiras ou irresponsabilidades.

Pagar de gostoso

11,11%

1

“O Guto só paga de gostoso.” (tomar o mérito por algo que você quase não participou ou nem chegou a ajudar).

Pagar de doido

11,11%

1

“Você pagou de doido na escola ontem”. (pagar de doido seria fazer algo que não deveria ou um erro, mais utilizado pelos jovens).

Pagar de burro

11,11%

1

“Fica pagando de burro pra não arranjar problema.” (passar a ideia de ser desinformado sem que o seja).

Pagar de bom moço

11,11%

1

“Ele sempre paga de bom moço na frente do chefe”

TOTAL

100%

9

Já a construção [VPAGARX], ao contrário dessa mesma construção no Corpus do Português, apresenta maior frequência de uso no Dicionário InFormal. Neste padrão construcional, foi analisado o total de 27 ocorrências, e uma parte delas se refere metonimicamente/metaforicamente a partes do corpo humano. Do total de 27 ocorrências, 8 tokens foram direcionados exclusivamente ao corpo feminino, o que representa um percentual de 29,6% do total de ocorrências. Abaixo são destacados alguns exemplos.

(9) “Paguei peitinho!” - Camila Pitanga após um desfile onde sua roupa deslizou e acabou mostrando parte dos seus seios.” (Disponível em: dicionarioinformal.com.br)

(10) “Mulher sai do banho somente de toalha, e deixa toalha cair: - ‘Ai, a toalha acabou caindo e eu paguei ‘bundinha’ para todos que estavam atrás.” (termo usado quando uma pessoa, com ou sem intenção, deixa a ‘bunda’ à mostra, ou mostra a bunda a alguém). Disponível em: dicionarioinformal.com.br)

(11) “Maria sempre paga cofrinho quando senta”. (quando a pessoa abaixa ou senta e a calça fica mostrando o cofrinho da pessoa. Exposição do cofrinho). (Disponível em: dicionarioinformal.com.br)

A tabela (2) mostra na íntegra os dados coletados no Dicionário InFormal com o padrão [VPAGAR+SN]:

Tabela 2: Corpus do Dicionário InFormal construção [VPAGAR+SN]:

Pagar x

Frequência

Ocorrência

Contexto de uso

Pagar o pato

3,70%

1

“Ele nem tava na hora do roubo na padaria mas acabou pagando o pato, quem mandou ser amigo de bandido.”

Pagar o parto

3,70%

1

O garoto estava jogando bola com a vizinha e frente a sua casa, mesmo com a repreensão da mãe que disse pra ele não jogar por que poderia acontecer alguma coisa de ruim. O garoto não ouviu e jogou, terminou engravidando a menina e agora ele vai ter que pagar o parto.

Pagar mico

3,70%

1

“Vou ter que pagar mico e ir nessa festa vestido assim”. (ato de passar vergonha)

Pagar o ferreira

3,70%

1

“Vou ali pagar o ferreira” (ato de defecar, arriar o barro, cortar o charuto, espremer o moreno, passar um fax)

Pagar madeira

3,70%

1

“Esse cara fala muito mas vai pagar madeira quando eu conseguir o emprego. (o mesmo que pagar pau)

Pagar luvas

3,70%

1

“Dirceu vive a pagar luvas aos seus funcionários” (em Portugal a expressão significa dar gratificações ou subornos”

Pagar língua

7,41%

2

“Ele disse que nunca ia comprar uma roupa dessa, agora vai ter que pagar língua” (é uma expressão usada quando alguém comete um erro e é forçado a reconhecê-lo, quando se diz algo ou se sustenta uma opinião que é contradita pelos atos posteriormente).

“Joaquim diz que não quer casar, mas quero só ver quando pagar a língua!” (expressão usada quando alguém faz algo que dizia ser contra).

Pagar embuste

3,70%

1

“Você está pagando embuste com essa corrente de ouro do seu amigo” (ser o que não apresenta realmente; receber atenção por atitudes não próprias ou utilizar recursos materiais ou intelectuais de terceiros para obter status).

Pagar cofrinho

3,70%

1

“Maria sempre paga cofrinho quando senta”. (quando a pessoa abaixa ou senta e a calça fica mostrando o cofrinho da pessoa. Exposição do cofrinho).

Pagar bundinha

3,70%

1

“Mulher sai do banho somente de toalha, e deixa toalha cair\; - ‘Ai, a toalha acabou caindo e eu paguei “bundinha” para todos que estavam atrás.” (termo usado quando uma pessoa, com ou sem intenção, deixa a “bunda” à mostra, ou mostra a bunda a alguém)

Pagar a conta

3,70%

1

“Elas pagaram a conta por não terem cuidado direito do irmão”; “Fulano pagou pelo que fez” (expressão popular que se refere a sofre as consequências de um ato feito ou não por você)

Pagar boquete

3,70%

1

Paga um boquete aqui que eu te dou 10 reais!

Pagar peitinho

3,70%

1

“Paguei peitinho!” - Camila Pitanga após um desfile onde sua roupa deslizou e acabou mostrando parte dos seus seios.”

Pagar sapo

3,70%

1

(vexame, xingar, dar bronca, passar sermão, lição de moral, bronca)

Pagar pau

3,70%

1

“Paguei mó pau pela tua redação que fizeste ontem”. (expressão usada para demonstrar admiração por algo ou alguém)

Pagar um babão

7,41%

2

“Fulano de tal paga um babão excelente” (pagar boquete).

“Ela pagou um babão pra mim ontem.” (pagar um boquete).

Pagar cuzinho

3,70%

1

“Tanto pressionei a minha namorada que ela vai pagar cuzinho pra mim!” (ato de consentir com a sodomia. O popular “dar o cu”)

Pagar dez

3,70%

1

“- Paga dez aqui sua safada!” (fazer sexo oral no homem. Pagar dez devido ao preço cobrado em São Paulo (já quase padrão) de 10 reais por um boquete. O mesmo que fazer uma laranjada, espremer a laranja, pagar um boquete, fazer um bolagato)

Pagar espanhola

3,70%

1

“Eu vou pagar uma espanhola”. (espanhola ou espanholada é o nome dado a uma técnica sexual em que a relação ocorre com um parceiro sem que haja penetração. Nesse ato, o homem aloja o pênis entre os seios da mulher, onde este é então estimulado por meio de movimentos ascendentes e descendentes. Essa prática é também conhecida como “espanhola’ em países com Itália. Na Espanha, porém, tal prática sexual é denominada “cubana”).

Pagar paixão

3,70%

1

“Ontem João pagou paixão pra Maria, ele disse que ela era a mais bonita do mundo.” (quando o cara ou a garota fica fazendo declarações para o peguete ou ficante. Agindo tipo namoradinho).

Pagar rola

3,70%

1

“Nunca vi um fulano igual a você, que gosta de pagar rola para chefes que não valem um conto, você é uma tremenda besta mesmo!” (puxar saco, baba ovo).

Pagar suco

3,70%

1

“Nossa hoje aquela gata pagou um suco pra mim eu fiquei louco”. (boquete, chupeta).

Pagar um leal

3,70%

1

“Paguei um leal bem molhadinho” (sexo oral, bola gato, boquete)

Pagar mistério

3,70%

1

“O tenente vai pagar mistério para o pelotão” (na linguagem militar é esconder, guardar para si e não entregar segredo)

Pagar o velho

3,70%

1

“Me espera aqui que vou ali pagar o velho.” (obrar, evacuar, fazer cocô, fazer as necessidades fisiológicas, cagar, defecar, soltar um barro, amassar um barro, bater uma laje, enforcar o defunto, cortar o rabo do macaco)

TOTAL

100%

27

Como se pode observar, alguns exemplos na tabela 2, embora formados pela construção [VPAGARSN] sofrem variação na interpretação semântico-pragmática, no que diz respeito à situação de constrangimento/vexação, a depender do contexto de uso. É o que se observa nos exemplos a seguir.

(12) “Paguei mó pau pela tua redação que fizeste ontem”. (expressão usada para demonstrar admiração a alguém).

(13) “Elas pagaram a conta por não terem cuidado direito do irmão”; “Fulano pagou pelo que fez” (expressão popular que se refere a sofrer as consequências de um ato feito ou não por você).

(14) “O tenente vai pagar mistério para o pelotão” (na linguagem militar é esconder, guardar para si e não entregar segredo)

Nos enunciados de (9) a (14), em que pese serem representados pelo mesmo padrão construcional, o sentido é diferente da situação de constrangimento/vexação, assim como a maior parte dos outros exemplos. Em (12), por exemplo, o valor axiológico de admiração é positivo; em (13), o participante parece um justiceiro e em (14) há um sentido restrito a um contexto específico de uso (militar), este último apresenta um grau maior de idiomaticidade em grupos militares. Observa-se que essas construções constituídas por formas verbais e não-verbais formam predicadores complexos e uma mesma forma pode sofrer variação semântico-pragmática. No entanto, a questão variacional não é o objeto de investigação neste artigo.

No que diz respeito à seleção da rede construcional do verbo pagar no PB, utilizada nesta pesquisa, seguem, na tabela 3, os tokens de cada um dos corpora analisados:

Tabela 3: Rede construcional do verbo pagar no PB

[VPAGARX]

[VPAGARdeX]

Corpus do Português

pagar o preço

pagar de fodão

pagar mico

pagar de intelectual

pagar o mal

pagar de santa

pagar pra ver

pagar de santo

pagar um alto preço

pagar de bonzinho

pagar o pato

pagar de rico

pagar um favor

pagar de entendido

pagar os seus pecados

pagar de herói

pagar promessa

pagar de inteligente

pagar hábito

pagar de machão

pagar o maior mico

pagar de gatinha(s)

pagar de bonzão

Corpus do Dicionário InFormal

pagar o parto

pagar de gatão

pagar o ferreira

pagar de mula

pagar madeira

pagar de lord

pagar luvas

pagar de loko

pagar língua

pagar de gostoso

pagar embuste

pagar de doido

pagar cofrinho

pagar de burro

pagar bundinha

pagar a conta

pagar boquete

pagar peitinho

pagar sapo

pagar pau

pagar o babão

pagar cuzinho

pagar dez

pagar espanhola

pagar paixão

pagar rola

pagar suco

pagar o leal

pagar mistério

pagar o velho

Considerações finais

Este artigo buscou investigar, sob a perspectiva da GC, aliada aos pressupostos teóricos da LC e da Gramática Cognitiva, as construções (semi)-idiomáticas no PB, formadas com o verbo suporte pagar, a fim de despertar questões relativas à formação do padrão construcional [VPAGARX] e [VPAGARdeX], isto é, formas verbais acompanhadas de elementos não-verbais que, conforme Machado Vieira (2014), formam predicadores complexos, que são passíveis de, por meio dos processos de gramaticalização/lexicalização, formarem idiomatismo na língua.

Por conseguinte, identificou-se na análise dos corpora que a construção [VPAGARdeX] apresenta maior produtividade na língua e no pareamento forma-significado identificou-se, predominantemente o sentido de fingimento de estado. Essa construção parece estar bem mais cristalizada na língua e tanto o slot V quanto o slot X são passíveis de alternância, mantendo o sentido, na maioria dos casos, a exemplo de: “pagar de santinha”, “fazer de santinha”, “tirar de santinha” ou “pagar de louca”, “fazer de louca”, “tirar de louca” etc. Já, a construção [VPAGARX] apresenta-se, mais frequentemente, em situações reais de uso às quais os participantes são submetidos ao constrangimento/vexação, obtendo menor frequência na língua, conforme observado nos Corpora.

No que tange às hipóteses levantadas neste artigo: i) se pode-se afirmar que o contexto sociocognitivo e interacional exerce influência na preferência pelos usos dessas construções? ii) se os padrões construcionais [VPAGARX] e [VPAGARdeX] seriam uma detecção de idiomatismos com níveis de cristalização diferentes (graus de idiomaticidade?) e, se iii) As construções idiomáticas com o verbo pagar são frequentemente utilizadas quando relacionadas ao corpo feminino, o que poderia evidenciar uma orientação machista desse uso? Cumpre ressaltar que: a primeira hipótese foi confirmada, tendo em vista que as construções (semi)-idiomáticas com o padrão [VPAGARX] e [VPAGARdeX] são mais frequentes em contextos informais de uso, em que se observou a predominância da linguagem coloquial, conforme apresentado nos corpora.

Com relação a segunda hipótese, as amostras parecem indicar uma possível idiomaticidade em curso na língua, porém com níveis de cristalização diferenciados: “pagar mico” e “pagar boquete”, por exemplo, apresentam certo grau de idiomaticidade cristalizado na língua, por outro lado, construções como “pagar o ferreira” e “pagar o velho”, ambas com o sentido de evacuar, parecem ser de uso bem restrito a uma certa faixa etária e/ou grupo social. Por outro lado, “pagar de santa” e “pagar de bom moço” apresentam maior grau de idiomaticidade, se comparadas a “pagar de mula” e “pagar de lord”. Por fim, verifica-se uma tendência da construção de idiomatismos, com ambas as construções, embora em níveis de cristalização distintos, pois a construção [V___deX] apresenta maior grau de (semi)-idiomaticidade no PB.

No que diz respeito à terceira hipótese, suscitada a partir de uma discussão em sala de aula, não se pode confirmá-la, tendo em vista que o preenchimento do slot X, referindo-se ao corpo feminino não é mais frequente em ambas as construções. No Corpus do Português, por exemplo, a maior frequência de tokens, no slot X, foi relacionada ao gênero masculino, de acordo com os gráficos (1 e 2). De forma análoga, no Dicionário InFormal, das 27 ocorrências com o padrão [VPAGARX], somente 8 tokens foram direcionados, exclusivamente ao corpo feminino, o que representa um percentual de 29,6% do total de ocorrências.

Sendo assim, esse fato desperta o interesse em pesquisas futuras, baseadas em uma coleta mais expressiva de dados e em outros sites, que venha possibilitar a confirmação se há ou não uma tendência machista no uso da construção [VPAGARX], com sentido de constrangimento/vexação, referente ao gênero feminino, uma vez que esta foi a motivação principal dessa pesquisa.

Enfim, é importante ressaltar a relevância da LC e da Gramática Cognitiva para consolidação da Gramática de Construções, visto que a concepção de léxico e sintaxe, como um continuum de estruturas simbólicas, que formam pares de forma e significado trouxe luz aos estudos construcionistas, sendo capaz de dar conta das irregularidades na língua, dentre as quais se destacam as construções idiomáticas no PB.

Bibliographie

ABRAÇADO, Jussara e Eduardo, MOREIRA. Construções idiomáticas com o verbo pagar no português brasileiro. Domínios de Lingu@gem. Uberlândia, v. 15, n. 4, out./dez. 2021.

ALVES, Dennis de Oliveira. A construção idiomática “[VERIMPSE] S” no português brasileiro: uma abordagem construcionista para a mudança linguística. In: CEZARIO, Maria Mauro, ALONSO, Karen e Dennis, CASTANHEIRA (orgs.). Linguística Baseada no Uso: explorando métodos, construindo caminhos. 2020. Rio Book’s, 2020, v. 1, p. 221-237.

DAVIES, Mark e Michael, FERREIRA. Corpus do Português [online], 2016. URL: https://www.corpusdoportugues.org [Acessado em agosto de 2022].

FERRARI, Lilian. Introdução à Linguística Cognitiva. São Paulo: Contexto, 2011.

MACHADO VIEIRA, Márcia dos Santos. Idiomaticidade em construções com verbo suporte do Português. Revista SOLETRAS. 2014, n. 28, p. 99-125.

Illustrations

Citer cet article

Référence électronique

Maria Cristina Vieira Bastos, « Construções (semi-)idiomáticas com [VPAGARX] e [VPAGAR deX]: vexação e fingimento na construção de sentido », Reflexos [En ligne], 6 | 2023, mis en ligne le 19 avril 2023, consulté le 29 avril 2024. URL : http://interfas.univ-tlse2.fr/reflexos/1286

Auteur

Maria Cristina Vieira Bastos

Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ

mariacristinabastos@letras.ufrj.br

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